Ciências Sociais e Humanas
Sonhos falam a linguagem da arte
Reza a lenda que a Esfinge do Egito dizia “decifra-me ou devoro-te” a todo viajante que se aproximava. O mesmo ocorre nos sonhos que brincam de decifrá-los ao criar curtas metragens com o intuito de “conhecer-te a ti mesmo.” E o autoconhecimento nos impede de devorar a própria vida.
“Sonhar é acordar-se para dentro”, resumiu o poeta Mario Quintana. De fato, os sonhos são a porta de entrada para a mente inconsciente. Sabe aquela famosa imagem do Iceberg onde a parte acima da superfície simboliza a parte consciente e a submersa o inconsciente? Então, enjoei dessa imagem e inventei outra.
Sua mente funciona como um avião: o inconsciente age como o piloto automático e dirige a aeronave 95% do tempo. Já o comandante pilota a mente consciente, que entra em cena principalmente em pousos e decolagens. Para Jung, o céu representaria o inconsciente coletivo.
Talvez não saiba, mas sonhamos diariamente. E mesmo que esqueça, eles te acompanham sono após sono. Mas há um pequeno imenso porém: sonhos tentam falar com você e sobre você na linguagem da arte, quando o inconsciente vem à tona. Por isso podem ser tão complexos e confusos ao mesmo tempo que transparecem em imagens e símbolos a realidade de forma disfarçada.
Apesar de os sonhos serem “meus”, não poderia afirmar que sou autor da própria obra tampouco poderia colocar minha assinatura na história e dizer: “eu que fiz.” Sou no máximo co-autor mesmo sabendo que tenho influência sobre eles dependendo do que faço no dia a dia. Se assisto muitas tragédias ou filmes de terror, terei pesadelos. Caso contrário, não sei o que virá.
Você pode sonhar não saber contar histórias, mas seus sonhos são mestres nessa arte ao revelar o sentido da sua vida em imagens aparentemente sem sentido: angústias, traumas, medos, ambientes, paisagens e crenças estão lá disfarçados. São tão geniais que alguns deles poderiam ser considerados obras de arte caso alguém os pintasse ou escrevesse. Na verdade é exatamente isso que fazem os criativos.
O pintor Salvador Dalí traduziu os próprios sonhos com tamanha genialidade que virou uma das referências do movimento Surrealista, que tinha entre outras funções transformar o inconsciente em arte.
Sabendo das imagens fascinantes produzidas nos sonhos, o artista sentava com uma colher e um prato de alumínio para que quando adormecesse, a colher fizesse barulho ao cair no prato e assim acordá-lo.
Em seguida, Dalí conseguia capturar imagens surreais em suas pinturas: relógios murchos, paisagens que se transformavam em pessoas, entre outras. Thomas Edisson também utilizava técnica parecida para aguçar a criatividade em seu laboratório ao criar a lâmpada elétrica.
Ou seja, o gigante da psicanálise Sigmund Freud defendeu em sua centenária obra “Interpretação dos Sonhos” que eles falam sobre você de forma disfarçada. E claro, arrombou as portas do inconsciente para influenciar a humanidade na arte, literatura, propaganda e o que mais os sonhos permitirem.
E Shakespeare, o gênio dos sonhos na escrita e dramaturgia, nos humilha com tamanha sabedoria: “Somos da mesma matéria de que os sonhos são feitos. E a nossa vida breve é circundada pelo sono.”
Denis Kraiser
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