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Cultura e Lazer

Fujam para Marte: interpretando “Life on Mars”, de David Bowie

Denis Kraiser

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Atendendo a pedidos dos fãs de Rock, vamos a outro gênio que nos deixou órfãos há quase 3 anos: David Bowie. 

Apelidado de “camaleão” por sua versatilidade, Bowie é um caso à parte na música pois sua influência transcende a própria música e influencia diversas áreas como moda, filmes, arte, preconceitos, quebra de regras, movimento gay, internet…

Músico, escritor, cantor, poeta, ator, artista, pintor… lutou durante a vida a favor da demolição de crenças sociais chocando mentes tradicionais inglesas com muita originalidade em tudo que fazia.

Ele foi o que Raul Seixas chamava de “metamorfose ambulante” por ser um inovador obstinado sempre experimentando coisas diferentes. Sua criatividade foi ilimitada até o último dia de sua vida, quando lançou o álbum Lázarus.

Entre suas inúmeras músicas incríveis, escolhi “Life on Mars” de seu álbum Honky Tory dos anos 1970. Ele foi tão profundo que a letra/clipe/performance só pode ser compreendida no contexto da época.

Bowie, apesar de sua contínua produção artística, não conseguia emplacar nenhum grande Hit até conhecer o ator e dançarino Lindsay Kemp, talvez sua maior influência individual no início.

A criação de seu personagem andrógino Ziggy Stardust, influência direta da chegada do homem à Lua, é emblemática pois engloba um rock teatral, cross dressing, maquiagem do Kabuki japonês, pop Art de Andy Warhol e obviamente a grandiosidade desse gênio muito a frente de seu tempo.

Quando jovem, levou um soco no olho esquerdo em uma briga deixando sua pupila dilatada para sempre e mesmo assim a usou como forma de arte no clipe da música (assista no final).

Em sua vida pessoal, também quebrou todas as regras estabelecidas: teve casamento aberto, foi viciado em cocaína por anos, divorciou-se, assumiu sua homossexualidade, casou-se novamente com uma mulher negra e enfim mudou de ideia voltando a ser heterossexual com um casamento feliz. Artisticamente falando, ele foi o único “ex-gay” que se tem notícia, tamanha sua originalidade.

A música de hoje é talvez a que mais gosto pelo conjunto da obra. Acredite se quiser, ela foi inspirada em um cantor francês que deu origem a My Way de Frank Sinatra. Mas Bowie era original e queria fazer as coisas do seu jeito. E essa tem inúmeras interpretações, vamos viajar para Marte!

Life on Mars

Começa que o título não tem nenhuma relação com a “vida em Marte”, apenas influência da corrida espacial da época e um lugar para fugir da realidade que vivemos.

It’s a God awful small affair

To the girl with the mousey hair

But her mummy is yelling: No!

And her daddy has told her to go

But her friend is no where to be seen

Now she walks through her sunken dream

To the seats with the clearest view

And she’s hooked to the silver screen

But the film is sadd’ning bore

For she’s lived it ten times or more

She could spit in the eyes of fools

As they ask her to focus on

Uma “garota de cabelo castanho” (ele mesmo) está em um suposto romance ruim, que na verdade não existe. 

Sua mente está no dilema (“Sua mãe” grita: não vá! Seu pai incentiva ir) se deve ou não fugir da realidade e assistir à mediocridade da TV/mídia.

Ele acaba indo e começa a viajar em seu sonho e foge. Senta no assento com melhor vista e é fisgado pela mídia (silver screen). 

Mas o filme/ história é muito chato pois já o vivenciou mais de 10 vezes (todo dia a mesma coisa). Tem que ser muito “trouxa” para continuar prestando atenção em…

Sailors fighting in the dance hall.

Oh man!

Look at those cavemen go

It’s the freakiest show

Take a look at the lawman

Beating up the wrong guy

Oh man!

Wonder if he’ll ever know

He’s in the best selling show

Is there life on Mars?

Marinheiros brigando no salão de dança, Homens das cavernas… É o show mais bizarro que existe.

O policial ou advogado batendo no cara errado (homem da lei que a descumpre). Será que ele sabe que está no maior show do mundo?

Ds do céu, será que há vida em Marte? Porque aqui não tem condição…

It’s on America’s tortured brow

That Mickey Mouse has grown up a cow

Now the workers have struck for fame

‘Cause Lennon’s on sale again

See the mice in their million hordes

From Ibeza to the Norfolk Broads

Rule Britannia is out of bounds

To my mother, my dog, and clowns

But the film is a sadd’ning bore

‘Cause I wrote it ten times or more

It’s about to be writ again

As I ask you to focus on

Está estampado na mente dos EUA que o Mickey Mouse ingênuo cresceu e agora dá muito lucro (cash cow). Até os trabalhadores da música de John Lenon farão greve para aparecer e ficarem famosos pois ele rompeu com os Beatles e agora está vendendo novamente. Todos querem ser famosos.

A horda de milhões de ratos (nós) invadiu Ibiza, ilha na Espanha, e os lagos de Norfolk na Inglaterra. Rule Britania, um hino patriótico inglês, saiu do controle pois se espalhou por todo mundo. A invasão cultural inglesa dos anos 60/70 está em toda parte. Até minha mãe, meu cachorro podem ver.

Mas essa história é deprimente porque já foi escrita mais de 10 vezes. A história se repete e será escrita mais uma vez.

Mas eles querem sua atenção a qualquer preço.

E talvez o dilema de Bowie: a mesma mídia que ele critica e pode nos alienar e deixarnos medíocres é a que o tornou um fenômeno mundial.

Denis Kraiser

Link para a obra prima:
https://youtu.be/AZKcl4-tcuo

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