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Cultura e Lazer

Decifrando Bohemian Rhapsody, a obra prima do Rock mundial

Denis Kraiser

Publicado

em

Bohemian-Rhapsody-Queen

Já começo avisando que o final é “surpreendente” do pensamento de hoje. 

Esse ano o Queen está em evidência devido ao lançamento mundial do seu filme. Como sempre os admirei, decidi aprofundar o entendimento em uma obra de arte do rock mundial: Bohemian Rhapsody.

Eu e meu amigão Tchê fomos viciados por anos na banda, mas prestava mais atenção na voz (a mais incrível do mundo comprovada cientificamente) e um pouco da letra quando tínhamos por volta de 20 anos.

Como escrevi, “a arte fala a linguagem dos sonhos” através do inconsciente e mostra a realidade disfarçada em imagens, falas e símbolos. Portanto, é infrutífero interpretá-la ao pé da letra como muitos radicais tentam em museus, livros e filmes.

Ainda assim, cada um interpreta a arte à sua maneira, apesar de o artista muitas vezes querer expressar algum ponto de vista específico, mesmo que de forma velada.

Então mãos à obra de arte da música mundial. Lembrando que isso NÃO É uma tradução e sim interpretação.

Primeiro, o título: “Rapsódia Boêmia”. 

Rapsódia pega vários temas em uma mesma música, como ocorre nas “quebras” durante os ritmos de balada, ópera e rock da canção. A origem provável do título vem de Franz Liszt, pianista e compositor da popular Rapsódia Húngara Nº 2 de 1847.

Até mesmo Tom & Jerry utilizaram a composição original em um de seus episódios. Só colocar no Youtube que você certamente já ouviu.

“Boêmia” é uma palavra ambígua. Refere-se a um movimento artístico e social iniciado na França que se espalhou pelo mundo. Pode sugerir uma vida desregrada, de quem gosta da noite, de fumar e beber.

Por outro lado, têm o sentido hedonista de buscar o prazer (sexual) e alegria a qualquer custo. Em suma, um estilo de vida contra as regras da sociedade. Assim era Freddie Mercury: desregrado ao mesmo tempo que desejava quebrar regras sociais e preconceitos.

Parte 1)

Is this the real life?
Is this just fantasy?
Caught in a landslide
No escape from reality

A música começa com um conflito interno. “O que vivo é real ou apenas fantasia?”. Freddie sente um peso muito grande da vida por algum motivo como se tivesse sido soterrado em um desmoronamento. Mesmo assim, precisa encarar a realidade.

Open your eyes
Look up to the skies and see
I’m just a poor boy
I need no sympathy
Because I’m easy come, easy go
Little high, little low
Anyway the wind blows
Doesn’t really matter to me
To me

Ele sugere que você abra sua mente pois é igual a qualquer um. Apenas “um pobre rapaz” que “não precisa da compaixão de ninguém”, afinal é fácil de lidar e tem altos e baixos como qualquer um. Mesmo assim, entra em estado de negação total dizendo que “tanto faz, o vento vai soprar mesmo e tudo bem.”  Algo do tipo: “estou carregando o peso do mundo nas costas, mas finjo que nem ligo.”

Parte 2

Mama, just killed a man
Put a gun against his head
Pulled my trigger, now he’s dead
Mama, life had just begun
But now I’ve gone and thrown it all away

A música começa a mudar e ele faz um desabafo: “Mãe, acabei de matar um homem. Coloquei uma arma em sua cabeça, apertei o gatilho e agora ele está morto.”

Em outras palavras, fez uma idiotice que lhe custou a própria consciência e colocou tudo a perder bem quando tinha começado a curtir a vida.

Mama! Didn’t mean to make you cry
If I’m not back again this time tomorrow 
Carry on, carry on 
As if nothing really matters

Em seu conflito interno, ele pensa: “me desculpe mãe, mas não tive a intenção de fazê-la chorar ou desapontá-la. Se por acaso eu não estiver aqui amanhã, siga com sua vida como se nada tivesse acontecido.”

Too late, my time has come 
Sends shivers down my spine 
Body’s aching all the time 
Goodbye everybody 

I’ve got to go 
Gotta leave you all behind 
And face the truth

Agora é “tarde demais, chegou minha hora. Adeus a todos!” Aqui há um duplo sentido muito interessante. Ele pode realmente ter cogitado suicídio de “tanta dor no corpo e calafrios na espinha” ou simplesmente matou quem ele era. para dar origem a um novo “Eu”. De todo modo, precisa encarar a realidade, não dá mais para fingir.

Mama! Oh Oh
(Anyway the wind blows)
I don’t wanna die
I sometimes wish I’d never been born at all

A estrofe parece um grito de socorro à própria mãe. Seu desespero é tão grande que às vezes preferia nem ter nascido ao mesmo tempo que não quer morrer. Imagine a angústia de alguém vivendo nesse dilema emocional. De fato, ele precisa de muita compaixão, ao contrario do que diz a letra.

Parte 3 – Ópera

I see a little silhouetto of a man 
Scaramouche! Scaramouche! 
Will you do the fandango? 
Thunderbolt and lightning Very, very frightening me! 
Galileo! Galileo! Galileo! Galileo! 
Galileo, Figaro! Magnifico!

Uma mudança brusca de ritmo, começa a ópera em uma linguagem onírica. Não há nada sem sentido, pelo contrário. Apenas outra forma. Freddie fala dele mesmo em “uma pequena silhueta de um homem” e está acovardado como o personagem Scaramouche da comédia Dell’arte italiana, que é convidado a dançar o Fandango enquanto raios e trovões o apavoram ainda mais.

Então se lembra de Galileo Galilei, condenado pela inquisição por dizer a verdade que a Terra girava em torno do sol, uma revolução na época. Ele está assustado e meio desesperado como Fígaro, o barbeiro de Sevilha, em diversos lugares ao mesmo tempo. “Fígaro cá, Fígaro lá…”

I’m just a poor boy and nobody loves me 
He’s just a poor boy from a poor family 
Spare him his life, from this monstrosity

Mas o dia do juízo final interno de sua mente chegou, deixando-o completamente confuso: “Sou um pobre rapaz e ninguém me ama”. Ao mesmo tempo ele também pensa: “ele é apenas um pobre menino de uma família humilde, coitado. Alguém o poupe desse julgamento monstruoso.” Afinal, ele “matou um homem” e precisa ser julgado.

Easy come, easy go
Will you let me go?
Bismillah! 
No, we will not let you go! 
(Let him go!) 
Bismillah! 
We will not let you go! 
(Let him go!) 
Bismillah! 
We will not let you go! 
(Let me go!) 
Will not let you go! 
(Let me go!) 
Never, never let you go! 
Never let me go! 
No, no, no, no, no, no, no!

O que vem fácil, vai fácil. Será que me deixarão ir embora?
“Bismillah” é uma palavra árabe do Corão, livro sagrado dos Muçulmanos, e significa “Em nome de Alá”. 

“Em nome de alá, não o deixem ir!”. Mercury tinha raízes árabes/ persas e inclusive compôs outra música chamada “Ibrahim” (Abraão) em árabe. Aqui os juízes da própria mente ficam em dúvida se ele é culpado ou inocente pelo “assassinato”? O conflito interno permanece arraigado ao peso monstruoso que a religião ocupa em nossas vidas.

Oh, mamma mia, mamma mia! 
Mamma mia, let me go! 
Beelzebub, has a devil put aside for me! 
For me! For me!

Ele então apela: “mama mia, deixe-me ir!”. Não é suficiente que o Belzebu (um dos 7 príncipes do inferno) reservou um demônio exclusivamente para mim? Pelo amor de Ds!

Parte 4 – Rock and roll

So you think you can stone me and spit in my eye? 
So you think you can love me and leave me to die? 
Oh, baby! Can’t do this to me, baby! 
Just gotta get out Just gotta get right outta here!

Por fim, ele vence o duelo mental com ele mesmo:
“Você pensou que poderia me apedrejar e cuspir nos meus olhos?”
“Pensou que poderia me amar e me deixar para morrer?” Aqui não, meu bem! Não pode fazer isso comigo! Preciso sair daqui de qualquer maneira!

Parte 5

Nothing really matters 
Anyone can see 
Nothing really matters 
Nothing really matters to me  
Anyway the wind blows

Por fim, ele se acalma e realiza que tanto faz pois qualquer um perceber quem ele é. E o vento vai continuar soprando…

Resposta: Freddie Mercury confessa em forma de arte que é homossexual sem dizer uma só palavra sobre o tema. Esse é o tapa na cara que arte tem a capacidade de dar na sociedade. Toda música traz sua angústia de assumir que é gay e o conflito interno de sua mente do que acontecerá se todos souberem, inclusive sua esposa com quem era casado há 5 anos na época.

Ao mesmo tempo, encerra a música afirmando que não vai tolerar que o apedrejem ou cuspam nele por ter nascido dessa forma. Não foi ele quem escolheu.

Como sabem, sou bem eclético e leio de tudo. A melhor explicação científica que vi a respeito da homossexualidade até hoje é que eles ajudam as pessoas com seu jeito mais pacífico a viver com maior tolerância e cooperação. De qualquer jeito, ela é absolutamente natural em todo o reino animal. Apenas o mundo precisa saber disso, incluindo as religiões.

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