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Cultura e Lazer

O lado oculto de Stairway to Heaven

Denis Kraiser

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No embalo de Bohemian Rhapsody, hoje vou interpretar outra obra de arte do Rock mundial: Stairway to Heaven (“escadaria para o paraíso”). Talvez você nunca mais verá essa música da mesma forma tamanha genialidade.

Felizmente, você terá de ler até o fim para compreender sua complexidade, pois mesmo os criadores dizem não entender direito o que diz (por marketing ou pela complexidade da arte).

Não pense que decidi passar os olhos na letra e pronto. Fui obrigado (e agraciado) a pesquisar bastante e até consultar o gênio dos símbolos humanos Carl Gustav Jung para me guiar. Foi sem dúvida o pensamento mais complexo até aqui.

Quando digo obra de arte, não estou exagerando. Esqueça tudo que parece literal na canção. Cheia de simbologias como em sonhos e mitos, a canção dá margem a muitas interpretações, mostrando toda riqueza de sua composição tanto na letra quando na melodia de 8 minutos. Mesmo que cada um possa interpretá-la à sua maneira, extrai a essência do que Robert Plant e Jimmy Page expressaram.

Hey ho, let’s go! Vamos ao lado “oculto” da música.

Lembrando que não é tradução e sim INTERPRETAÇÃO.

Stairway to Heaven

Em primeiro lugar o título: “escadaria” quem não entende? Bastante real e cheia de degraus. Agora uma que leva ao paraíso? Como subir degraus para chegar ao paraíso? Onde fica esse paraíso? Pior: que “diabos” eles querem dizer com “paraíso”? Será o paraíso da Bíblia ou um Nirvana do budismo?

Calma, eu falei que era complexo… a linguagem humana é simbólica e isso muda tudo. Não tente interpretar seres humanos e o que eles escrevem, pintam e bordam em sentido literal. Nunca! Somos contadores de histórias e adoradores de símbolos.

Parte 1

There’s a lady who’s sure

All that glitters is gold

And she’s buying a stairway to heaven

When she gets there she knows

If the stores are all closed

With a word she can get what she came for

And she’s buying a stairway to heaven

A música começa calmamente e já contradizem Shakespeare, que afirmava “all that glitters is not gold” ou em português o velho ditado “nem tudo que reluz é ouro.”

Mas ao contrário do dramaturgo, a Lady (no final você entenderá) está convicta: “tudo que reluz é ouro.” Ou seja, enxerga a centelha divina em tudo e tem a escadaria que a leva à iluminação.

Chegando ao paraíso, mesmo que todas as “stores are all closed” (portas estejam fechadas) com o sentido de “independentemente das circunstâncias”, basta o poder da palavra para conseguir o que quer.

There’s a sign on the wall

But she wants to be sure

‘Cause you know, sometimes words have two meanings

In the tree by the brook

There’s a songbird who sings

Sometimes all of our thoughts are misgiven

Há um símbolo na parede mas como Jung nos alertou, símbolos são indefiníveis. Sim, há diversos símbolos ocultistas na música. O problema é que ocultismo nada mais é que a ciência em seus princípios. Afinal todos querem entender “the nature of nature”, ou como funciona o mundo.

Alquimistas se tornaram químicos. Magos, cientistas, tarô… e por aí vai. A diferença é que ocultistas imaginam que a razão pura não é suficiente.

O mesmo ocorre com palavras, pois podem ter um duplo sentido; literal e oculto. Não há como confiar cegamente nelas.

Então entra um cenário de floresta medieval. Ela ouve um pássaro, símbolo de libertação e de Toth, Ds da sabedoria no Egito, cantando na árvore da vida perto de um riacho. 

Pensamentos conscientes e racionais podem não ser suficientes para voar mais longe na imaginação. Iogues em estados de transe, por outro lado, conseguem ultrapassar as categorias normais do pensamento.

It makes me wonder

It makes me wonder

E isso o faz pensar. “Wonder” remete também a ficar maravilhado, encantado ou um milagre em si. Algo mágico.

There’s a feeling I get when I look to the west

And my spirit is crying for leaving

In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees

And the voices of those who stand looking

Quando “nos viramos para o Oeste” em determinadas seitas ou religiões, seria como observar o mundo material. Não é exagero comparar a racionalidade do ocidente contra a luz e intuição do Oriente.

Sair do estado material para a luz não é fácil: a Jornada de Libertação que transcende a vida atual para um estágio superior ou mais amadurecido pode ser dolorida. Mas se quer alcançar a iluminação,  precisa ir mesmo que “seu espírito chore por estar partindo.”

Nos pensamentos, começa a ver anéis de fumaça (fumo) entre as árvores, um claro sinal da sabedoria ocultista antiga de Xamãs, que “separam-se do corpo para voar pelo universo sob a forma de um pássaro.”

It makes me wonder

It really makes me wonder

And it’s whispered that soon

If we all call the tune

Then the piper will lead us to reason

And a new day will dawn

For those who stand long

And the forests will echo with laughter

Nesse caminho, os mestres de sabedoria ancestral cantarão em uníssono se seguirmos o Ds Pã que amava música tocando flauta pelas florestas e nos levará à auto transcendência. E só chegarão aqueles que resistirem no caminho.

Parte 2

If there’s a bustle in your hedgerow

Don’t be alarmed now

It’s just a Spring clean for the May queen

Yes, there are two paths you can go by

But in the long run

There’s still time to change the road you’re on

Nessa nova jornada interior você não precisa se desesperar pois a mudança é inevitável assim como a primavera vem e faz florescer a vida. 

Sempre haverá 2 caminhos a serem seguidos e mesmo que se equivoque poderá voltar ao da iluminação.

And it makes me wonder

Your head is humming and it won’t go

In case you don’t know

The piper’s calling you to join him

Dear lady, can you hear the wind blow

And did you know

Your stairway lies on the whispering wind

Obviamente haverá um turbilhão na sua mente diante das mudanças. O Ds pã da música está te chamando para se juntar a ele.

Alcançar a iluminação o fará sentir os ventos da liberdade como o pássaro que te guia no caminho.

Parte 3

And as we wind on down the road

Our shadows taller than our souls

There walks a lady we all know

Who shines white light and wants to show

How everything still turns to gold

And if you listen very hard

The tune will come to you, at last

When all are one and one is all, yeah

To be a rock and not to roll

And she’s buying a stairway to heaven

Enquanto seguir na estrada da sua transcendência, com as Sombras (de Jung, nosso lado mau) maiores que a própria alma, a Lady brilhará e te mostrará como tudo pode ser transformado em ouro. Ou seja, todos podem alcançar sua mais elevada finalidade: a plena realização das potencialidades do Self (ou ser).

Então sintonize a canção da sua própria vida que você chegará no que o sábio egípcio Hermes Trismegisto (ocultismo) escreveu em sua tábua Esmeraldina: 

“E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.”

Você atingiu a iluminação, o sentido da sua vida, sua razão de viver. Enfim você é forte como uma rocha (rock) e não um caos (roll). Trocadilho excepcional de Rock and Roll.

E afinal, quem é a Lady da canção? A mestre de iniciação, uma mulher símbolo universal que nos guia em nossa jornada solitária pela auto transcendência. Em outras palavras, a Anima (lado feminino da psique masculina) dos grandes Robert Plant e Jimmy Page.

Essa só Carl Gustav Jung explica, Freud não.

Denis Kraiser

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